Publicado por Lucinda Maria Brito em 10/9/2020 às 15:11 horas, in: https://www.facebook.com/lucindamaria.brito/posts/3056895717766731
OLIVEIRA DO HOSPITAL – TOPÓNIMO
Podia simplificar o mais possível a origem do nome da nossa terra. Dizer simplesmente que Oliveira vem de Ulvária – Ulveira e, por derivação, ficou Oliveira. Dizer que Hospital vem da Ordem do Hospital, fundada em S. João de Jerusalém. Podia ser, mas não.
Quero aprofundar um pouco mais. Pode ser? Quem ler, enriquecerá os seus conhecimentos. Quem não ler, paciência!
Então, vamos começar pela primeira parte ou primeira palavra do topónimo, precisamente Oliveira.
Talvez se pense logo que este nome tem a ver com a árvore que dá a azeitona e que é bastante abundante na nossa região. O Sr. Dr. Francisco Correia das Neves diz e passo a citar: “… Ulvaria e Ulveira são derivados de ulva ou de oliva (oliveira), mostrando-se esta segunda hipótese mais atraente.”
No entanto, o grande sampaense Dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos entendeu sempre que o topónimo Oliveira é a adulteração de Ulveira, provindo de ulva, porque nesta terra abundavam ulvas. O que são? São algas, parecidas com as alfaces do mar, na sua maioria marinhas, mas que também se desenvolvem em terrenos pantanosos, águas salobras e charcos. Portanto, tudo leva a crer que esta parte do topónimo se refira a essas plantas. Assim: ulva – ulvária – ulveira – oliveira.
E Hospital? Claro que não tem nada a ver com o hospital da Fundação Aurélio Amaro Diniz, inaugurado por volta de 1955. A nossa terra é muito mais antiga.
Esta parte do topónimo tem relação com a Ordem dos Hospitalários. Chamava-se assim, porque começou por ser um hospital fundado em S. João de Jerusalém, onde se recolhiam e tratavam peregrinos que, nas jornadas à Terra Santa eram muitas vezes atacados, feridos e abandonados. Claro que, nessa altura, as Ordens de frades eram, simultaneamente, religiosas e militares. Assim, ajudaram os reis cristãos nas lutas contra os mouros, durante as cruzadas. Esses cavaleiros vinham de muitos lados, por exemplo da França. Aconteceu com os primos D. Henrique e D. Raimundo. Tendo ajudado D. Afonso VI de Leão e Castela, foram recompensados. D. Raimundo casou com a filha legítima do rei e foi-lhe dado para governar o reino de Leão. D. Henrique casou com a filha ilegítima D. Teresa e foi-lhe dado o governo do Condado Portucalense, um território ao norte, mais ou menos entre os rios Minho e Douro, mais tarde até ao Mondego. Como sabemos, daqui nasceu o nome e o reino de Portugal (Portus Cale).
O conde D. Henrique e a condessa D. Teresa foram os pais de D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei, nascido em 1109. Ainda muito novo quando o pai morreu (1112), foi D. Teresa quem ficou à frente do condado.
Foi durante o tempo do seu governo, entre 1112 e 1128 (ano da batalha de S. Mamede, em que D. Afonso Henriques venceu as tropas da mãe e passou a governar o Condado), que ela fez uma grande doação, ou concedeu uma Comenda à Ordem do Hospital, precisamente nesta região. Um imenso território que, segundo alguns historiadores, excederia as terras que hoje são do nosso concelho.
Daí o nome Ulveira de Espital, hoje Oliveira do Hospital.
Algumas curiosidades sobre a nossa terra: Como proveio de uma Comenda, não teve foral velho e muitas outras terras do concelho tiveram foral e pelourinho, muito antes. Aliás, nem se sabe se terá tido pelourinho, porque o que se ostenta em frente do Palácio da Justiça veio de Ervedal da Beira, em altura incerta. Ainda hoje há uma zona de Oliveira do Hospital a que se chama Comenda: todos aqueles lugares limítrofes da Fundação Aurélio Amaro Diniz, que, antes, eram só terrenos de cultivo. A sede da Ordem do Hospital seria no local onde se situa a Igreja Matriz e os Paços do Concelho. Como o símbolo da Ordem era a Cruz de Malta (porque passou a chamar-se Ordem de Malta), aparece-nos este símbolo em muitos lugares, principalmente na Igreja e nos Paços do Concelho. No seu brasão, também a ostenta. É a única povoação de Portugal que mantém no topónimo o nome da Ordem que lhe deu origem.
Somos hospitaleiros e hospitalários!
Lucinda Maria