PRÉ-HISTÓRIA

A pitoresca e progressiva povoação de São Paio de Gramaços, nas margens do Antuã, hoje rio de cavalos, tem as suas raízes mais fundas na pré-história, talvez mesmo no Paleolítico – a Idade da Pedra mais antiga.

Esta afirmação baseia-se no facto de terem sido encontradas, na Quinta da Torre (junto ao povoamento), importantes vestígios arqueológicos que nos falam de um passado remoto, de uma época em que a cultura do homem, se circunscrevia à confecção e utilização de instrumentos de pedra lascada. Ainda desconhecia a cerâmica, a agricultura e a domesticação de animais, e sendo por força das circunstâncias caçador e colector, levava uma vida nómada ou semi-nómada, procurando locais ricos de caça. Contra as intempéries, refugiava-se em cavernas.

Para o fabrico dos seus instrumentos , o homem do paleolítico utilizava como matéria prima a pedra – mais vulgarmente o sílex, o quartzo, a quartzito e por vezes o osso. Mas os vestígios arqueológicos encontrados na Quinta da Torre não se circunscrevem ao período Paleolítico: correspondem a uma evolução cronológica e tipológica que se estende até à Idade Média.

Mas relatemos os factos que deram origem a tão surpreendente, valioso e quase ignorado espólio. O Sr. Dr. Fausto Soares, pai do Sr. Dr. João José Fonseca Soares, na sua Quinta da Torre, tinha dois poços distanciados cerca de 80 metros. Certo dia, decidiu ligá-los com uma mina, possivelmente para aumentar o caudal das respectivas nascentes. Durante os trabalhos de perfuração do solo os mineiros depararam-se com a presença de objectos estranhos, para eles completamente desconhecidos. Homem muito inteligente e culto (tinha o curso de Farmácia da Universidade de Coimbra), o Sr. Fausto Soares apercebeu-se do alto valor histórico e arqueológico dos achados, enviando os que lhe pareceram mais significativos ao Museu Machado de Castro, em Coimbra, e guardando os restantes em sua casa. Nessa altura estaria longe de pensar que seu filho, anos mais tarde, se matricularia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde concluiria a cadeira de Pré-História. Deste modo, possui um pequeno museu, com os achados classificados e preservados, obedecendo a uma certa evolução histórica. Assim, do período Paleolítico, estavam presentes três raspadeiras em xisto. Do período Neolítico, os vestígios eram mais numerosos: dois machados de basalto, um objecto semelhante a pisa-papéis cuja utilidade ignoramos e quatro achas polidas.

A presença do basalto numa região tipicamente granítica, obriga-nos a pensar que foram executados longe do espaço geográfico onde actualmente se situa a risonha e progressiva povoação de S. Paio de Gramaços. O fenómeno não é difícil de explicar: essas peças deveria ter funcionado como moeda de troca, prática corrente então recuados tempos. Recorde-se que o período Neolítico (ou da pedra polida) surgiu na Europa cerca de 5.000 a.C. e perdurou até ao ano 2.000 a.C..

Para a indústria da pedra, o homem do Neolítico utilizava o sílex com o qual fabricava principalmente pontas de lança (para a caça e para a guerra), setas com a mesma finalidade, facas, furadores, raspadeiras, etc.; além de grande variedade de utensílios de cerâmica, de osso (para anzóis e ornamentos) etc. Parece demonstrado que o homem do Neolítico já acreditava numa vida post morte. Como exemplo, citemos o facto do Professor Mendes Correia ter estudado uma sepultura Neolítica encontrada em Ota, e na qual figuravam, juntamente com os restos humanos, machados de pedra polida e vários micrólitos trapezoidais.

Além dos testemunhos pré-históricos referidos, outros objectos foram também encontrados na Quinta da Torre, a 4/5 metros de profundidade, durante a abertura da mina a que já nos referimos.
(transcrito de: http://www.memoriaportuguesa.pt/historia-de-sao-paio-de-gramacos , acedido a 25/06/2018)