ANTECENDENTES DA TOPONIMIA
(in: https://lusophia.wordpress.com/2016/11/17/lagos-da-beira-e-a-familia-carvalho-monteiro-por-vitor-manuel-adriao/)
Conhecida por Ordem Soberana de Malta, nunca deixando de exercer a vocação hospitalar de socorro aos carecidos e doentes como virtude cardeal de caridade ou amor que foi o motivo da sua fundação em 1099, quando alguns cristãos mercadores de Amalfi fundaram em Jerusalém, sob a Regra de S. Bento e com a indicação de Santa Maria Latina, uma casa religiosa para recolha de peregrinos.
Anos depois construíram junto dela um hospital que recebeu de Godofredo de Bouillon doações que lhe asseguraram a existência, desligando-se da igreja de Santa Maria e passando a formar congregação especial sob o Orago de São João Baptista. Em 1113, o Papa Pascoal II reconheceu-a Ordem de São João do Hospital e deu-lhe Regra própria. Em 1120, o cavaleiro francês Raimundo de Puy, nomeado Mestre Geral, acrescentou ao cuidado com os doentes o serviço militar[7].
Em Portugal, a Ordem do Hospital manteve-se independente. Não recebeu os bens da Ordem dos Templários como pretendia o papa Clemente V, que habilmente o rei D. Dinis fez transferir para a Ordem de Cristo então criada (1319).
Também não foi incorporada na Coroa em 1551 com as Ordens de Avis, de Cristo e de Santiago, apesar da dignidade de Prior do Crato ser atribuída aos Infantes D. Luís, filho de D. Manuel I, e mais tarde a seu filho D. António, mantendo assim o carácter singular e o epíteto de “Soberana” que lhe foi atribuído quando passou a designar-se de Malta[8].
Isso significa que a Comenda de Oliveira do Hospital e a Fazenda de Lagos da Beira mantiveram-se sempre na posse dos cavaleiros hospitalários até praticamente 1834. Por este motivo, ainda em 1910 a Cruz de Malta figurava no Brasão de Armas na fachada do Paço do Concelho de Oliveira do Hospital, como descreve o dr. António de Vasconcelos num precioso e raro estudo[9].
Um dos santos caríssimos aos hospitalários foi São Paio (Pelaio, Pelágio), e sob a sua evocação formaram o Pelágio, aparentemente destinado a socorrer os peregrinos cristãos que iam e vinham de Santiago de Compostela venerar o túmulo do Apóstolo, motivo porque São Paio é celebrado no dia imediato ao de São Tiago Maior, ou seja, 26 de Junho.
A par disso, dedicavam-se à guerra ao Islão – cuja resistência e ofensiva foi iniciada por Pelaio (718-733), fundador do Reino das Astúrias – abrindo caminho à Reconquista e à cristianização das vias celto-romanas tendo início ou fim na mesma cidade capital da Galiza[10].
Por outro lado, o Pelágio apresentava igualmente um aspecto cultural e inclusive hermético onde os saberes gnóstico, cabalístico e alquímico das três grandes religiões do Livro (judaica, cristã e islâmica) comungavam juntas da mesma demanda de realização espiritual, independente das contingências temporais da geopolítica da época, motivo do Pelágio ser igualmente sinónimo de pressuposta existência de uma Ordem Iniciática fechada ou secreta porventura na primazia da assistência à génese histórica e ao percurso evolutivo da Nacionalidade, desde a primeira hora posta sob a advocação da Virgem Santíssima.
Deste Pelágio terá participado o cultíssimo António Augusto Carvalho Monteiro, ao observar-se a sua inclinação para a simbologia hermética em que não foi avaro na decoração dos imóveis que foram seus. Possivelmente os seus antecedentes beirões, particularmente o seu pai, igualmente não seriam alheios ao Pelágio espiritual que, a par do temporal, deu nome a família portuguesa ligada aos Lusignan nacionais (Sampaio de Luzignano) e assim também ficou como topónimo de várias localidades vizinhas de Lagos da Beira: São Paio de Gramaços, São Paio do Mondego, São Paio de Gouveia[11].