INVASÕES FRANCESAS, GUERRA CIVIL E LUTAS POLÍTICAS

São Paio de Gramaços sofreu os efeitos da terceira Invasão Francesa no início do século XIX. Durante a retirada para Espanha, os exércitos franceses de Massena, permaneceram nesta localidade e espalharam o terror e a destruição entre os seus habitantes.
Praticaram crimes contra uma população ordeira e indefesa. (in A 3.ª Invasão Francesa e as Terras de Concelho de Oliveira do Hospital, do Rev.ª padre Laurindo M. Caetano). Conta o Pe José Joaquim Garcia Abranches, então cura de S. Paio do Codeço, no seu relatório de 25 de Abril de 1811, que na retirada os soldados franceses permaneceram três dias e quatro noites durante os quais cometeram as maiores atrocidades, deixando a população na miséria. O mesmo sacerdote faz uma descrição minuciosa de todos os desacatos e crimes que passamos a sintetizar: sete mortos entre a população civil, onze feridos, sete casas incendiadas, das quais nada restou além das paredes; roubos de toda a ordem na igreja e fora dela, só tendo escapado as imagens nos seus lugares. Ainda hoje se podem ver vestígios do incêndio na Casa da Família Vasconcelos, casa onde nasceu o Prof. Dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos. Nada ficou isento, nem mesmo a Igreja Paroquial, despojada de quase tudo o que tinha de valor.
A freguesia também foi palco das violentas lutas entre Liberais e Absolutistas que se seguiram à Guerra Civil de 1832-1834. Em 1840, um miguelista, António da Costa, invadiu a casa de José Lourenço da Costa Fonseca e por pouco a situação não terminou da pior forma.

LUTAS POLÍTICAS – 1840

De acordo com Fernando Coelho (in: https://www.facebook.com/fernandovasco.vasco?fref=gs&dti=385980901544787&hc_location=group_dialog , acedido a 25/06/2018) refere os seguintes factos:

Era o tempo do presidente Joaquim Ribeiro do Amaral (n. 1814). Por 1840 recordo a grande investida da quadrilha Miguelista do “ Caca, a S. Paio. O prior Dionísio Garcia Ribeiro (1821-1866), defendeu com “ unhas e dentes “ a população e salvou a vida do bacharel José Lourenço da Fonseca e Costa, pai do ilustre jurista, professor de Coimbra e Homem de Cultura, dr. Lourenço Justiniano da Fonseca e Costa.( 1ª matrícula data de 13.10.1853).
Era noite cerrada . O “Caca”, e seus cúmplices , sediados em Lagares, combinam, de véspera, uma deslocação a S. Paio. Aí, ao que diziam, havia umas contas para ajustar. Pela manhã, juntos à Povoação, numa colina estratégica “assentam arraiais”. Sendo ainda dia, resolvem atacar e “pelo caminho”, vão molestando e violando. O bacharel Costa Fonseca, para salvar a vida, tinha, em tempos, fornecido, ao bando, algumas quantias em dinheiro. Com a continuação da chantagem, resolveu este cidadão “ fechar a torneira”. O “Caca” e seus “ muchachos, como represália, vão à residência daquele Sampaense, na qual, buscando abrigo, ali se tinha enclausurado. A agitação era grande. A barulheira enorme: Mulheres gritavam, donzelas recatavam-se, crianças choravam, os cães ladravam e os homens, subrepticiamente aproximavam-se de forquilhas, cajados e varapaus, na expectativa de lhes serem surripiados alguns porcos ou borregos. Emergindo da confusão, o Prior Dionísio Garcia Ribeiro, foi acudir ao bacharel José Lourenço Costa Fonseca, que, até era seu padrinho. Aproximou-se também da contenda José Cupertino Garcia Ribeiro acompanhado de alguns voluntários dispostos a dar luta aos bandidos. O “Caca” e o seu bando iam-se aproximado da casa do bacharel Costa Fonseca, que acabaram por cercar. O ambiente tornou-se tenso e explosivo….e o tiroteio não se fez esperar. Os “bacamartes” disparavam em todos os sentidos. O barulho dos disparos era medonho, o cheiro a pólvora intenso, e os resquícios dos estragos das balas ficaram, por muito tempo, gravados nas paredes daquela residência. Do meio da balbúrdia, ergue-se uma mulher. Chamava-se Maria Abreu. Com um pau numa das mãos, corre à Igreja, ultrapassa rapidamente a escadaria exterior, escala a parede da torre que dá acesso aos sinos. Aí, à medida que incentivava os mais medrosos, tocava energicamente o sino a rebate. A população vai-se aglomerando junto ao adro da Igreja e depois “armada” com as suas alfaias agrícolas, mais umas facas e navalhas investe irascível contra os invasores. O Caca e seus apaniguados, fogem em retirada. Na fuga, perseguidos pela população deixam para traz um comparsa que havia sido ferido, de nome Joaquim Coimbra, que acabou por morrer “às mãos do Povo”. O Prior Dionísio Ribeiro e um seu irmão ficaram muito feridos na contenda. Aquele, pouco dado a “festivais bélicos”, ficou altamente chocado e muito traumatizado. A popular Maria Abreu, a heroína deste triste evento, salvou, com a sua atitude corajosa, decerto, muitos dos seus conterrâneos. Continua ignorada. Até quando?