São Paio de Gramaços é uma localidade, que funcionou como freguesia durante séculos até 2013, ano em que ocorreu a união de freguesias, no âmbito da Reorganização administrativa do território das freguesias (Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro), passando a designar-se União das Freguesias de Oliveira do Hospital e São Paio de Gramaços.
Fica situada na parte oriental do concelho de Oliveira do Hospital, sendo constituída pelos lugares de São Paio de Gramaços, Catraia de São Paio e por numerosas quintas.
São Paio de Gramaços é uma povoação antiquíssima tendo sido habitada na Idade da Pedra e posteriormente, por romanos, visigodos e árabes, e cristãos.
A completa cristianização da freguesia e a consequente integração no território nacional deu-se com a conquista de Seia, em 1056, por Fernando Magno

PRÉ-HISTÓRIA

O povoamento da área que hoje corresponde ao lugar de São Paio de Gramaços remonta à pré-história, sendo uma das freguesias do concelho mais ricas a nível arqueológico. Os achados da Quinta da Torre, junto ao povoamento, comprovam-no. Os mais antigos são três raspadeiras em xisto que datam do período Paleolítico, e vestígios da época Neolítica (dois machados de basalto, um objeto semelhante a pisa-papéis e quatro achas polidas.

MOÇÁRABES

Além dos testemunhos pré-históricos, outros objetos foram encontrados na Quinta da Torre, a quatro ou cinco metros de profundidade, como pedaços de uma lança (ponta de lança) que o arqueólogo D. Fernando de Almeida classificou como sendo de origem moçárabe.

CIVILIZAÇÃO ROMANA

Da civilização romana, foram recolhidos dois fusos de tear, um pisa-papéis, uma mó grande perfurada ao centro (esta ainda não classificada com rigor), quatro mosaicos de argila com fendas de encaixe, utilizados em pavimentações, inúmeras tégulas, bem como mosaicos. Foram também encontrados outros vestígios como uma pá de meio metro de base e o segmento com mais de 25 centímetros de diâmetro. Foram também encontrados vestígios romanos numa quinta contígua, que pertenceu à D. Josefina da Fonseca.

PERIODO MEDIEVAL

Do período alto-medieval, temos o sítio arqueológico da Quinta de Salgodins, codificado com o Código Nacional de sítio (CNS) 20.453. Trata-se de um conjunto de três sepulturas antropomórficas, sendo que duas delas apresentam uma moldura interna. Há vestígios de terem sido cobertas, em tempos, por uma tampa. Com a conquista de Seia, em 1056, por Fernando Magno, a área correspondente à freguesia de S. Paio de Gramaços foi definitivamente integrada no território nacional. Já depois da fundação da Nacionalidade, um tal D. Chavão, representante de D. Afonso Henriques em Seia, tinha os direitos do padroado eclesiástico na paróquia então denominada de Sampaio de Garamácios. Era então um pequeno aglomerado de casais com uma igreja dedicada a S. Pelágio. Quanto ao topónimo, Garamacios deriva do latim “Garamaz”.

NACIONALIDADE

A completa cristianização da freguesia e a consequente integração no território nacional deu-se com a conquista de Seia, em 1056, por Fernando Magno.
Em meados do século XII, no tempo de D. Afonso Henriques, D. Chavão, rico-homem das terras de Seia, com residência habitual em Gramácios ou Garamácios. Era figura do maior destaque, representante do rei no vasto território de Seia e como tal, “tinha os direitos de padriado eclesiástico na vizinha paróquia de Sampaio de Garamácios ou Gramaços”, como informa o historiador e investigador Professor Doutor António de Vasconcelos.
Nesse tempo, a povoação era constituída apenas por um pequeno agrupamento de casais implantados na encosta suave e luxuriante duma colina, dominada do cinto do monte por uma pequena e devota igreja dedicada ao Mártir S. Pelágio ou S. Paio.
De acordo com as Inquirições de 1258, ordenadas por D. Afonso III, S. Paio de Gramaços (e parece que também a vila) pertencia a D. Estevão Anes, alcaide da Covilhã. Em termos administrativos, a paróquia estava integrada na Terra de Seia e estava sujeita às suas leis.
A terra de Seia abrangia os atuais concelhos de Seia (exceto Vide, Teixeira e Alvôco), de Oliveira do Hospital e Tábua (quase inteiramente), Paços da Serra e Vila Nova de Tazem, de Gouveia, Coja e Vila Cova e de Arganil. Em meados do séc. XIV a terra de Seia englobava as seguintes paróquias, hoje enquadradas no concelho de Oliveira do Hospital: S. Pedro de Lourosa, Santa Maria da Bobadela; S. Cristóvão de Nogueira, Oliveira do Hospital, S. Pedro de Travanca, S. João de Lagos, S. Miguel de Meruge e Santa Maria de Lagares.
Em meados do século XVI (1543) foi constituída na igreja Paroquial a “Santa Irmandade do Mártir S. Pelágio”, na qual D. João III se filiou e se declarou “Protetor e Juiz Perpétuo”, com estatutos próprios e grandes privilégios concedidos pelo Papa Júlio III (1550-1553).

INVASÕES FRANCESAS, GUERRA CIVIL E LUTAS POLÍTICAS

São Paio de Gramaços sofreu os efeitos da terceira Invasão Francesa nos inícios do século XIX. Durante a retirada para Espanha, os exércitos franceses de Massena, permaneceram nesta localidade e espalharam o terror e a destruição entre os seus habitantes.
Praticaram crimes contra uma população ordeira e indefesa. (in A 3.ª Invasão Francesa e as Terras de Concelho de Oliveira do Hospital, do Rev.ª padre Laurindo M. Caetano). Conta o Pe José Joaquim Garcia Abranches, então cura de S. Paio do Codeço, no seu relatório de 25 de Abril de 1811, que na retirada os soldados franceses permaneceram três dias e quatro noites durante os quais cometeram as maiores atrocidades, deixando a população na miséria. O mesmo sacerdote faz uma descrição minuciosa de todos os desacatos e crimes que passamos a sintetizar: sete mortos entre a população civil, onze feridos, sete casas incendiadas, das quais nada restou além das paredes; roubos de toda a ordem na igreja e fora dela, só tendo escapado as imagens nos seus lugares. Ainda hoje se podem ver vestígios do incêndio na Casa da Família Vasconcelos, casa onde nasceu o Prof. Dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos. Nada ficou isento, nem mesmo a Igreja Paroquial, despojada de quase tudo o que tinha de valor.
A freguesia também foi palco das violentas lutas entre Liberais e Absolutistas que se seguiram à Guerra Civil de 1832-1834. Em 1840, um miguelista, António da Costa, invadiu a casa de José Lourenço da Costa Fonseca e por pouco a situação não terminou da pior forma. A nível administrativo, São Paio de Gramaços pertenceu ao concelho de Seia até 1837, data em que transitou para o de Oliveira do Hospital.

 A ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA E OS TEMPLOS

Em termos eclesiásticos, o cura era apresentado pelo vigário de Folhadosa, do padroado do cabido de Coimbra.
No que diz respeito ao património edificado, existe a Igreja Paroquial, o Santuário e Capela de Nossa Senhora dos Milagres e a Capela so Cemitério.
A Igreja Paroquial fica situada no centro da povoação, é uma obra de finais do século XVIII ou inícios do século XIX. O templo anterior, era dotado de grande antiguidade e estaria situado fora da povoação. Trata-se de um templo com torre sineira adossada à fachada principal e com esta a terminar em empena triangular. No interior, os tetos são em apainelados simples. Existem três retábulos. O retábulo-mor apresenta uma tela representando o Martírio de S. Pelágio. Foi pintado por António Gonçalves em Maio de 1856. O mesmo retábulo contém as esculturas de pedra de S. Pelágio e da Virgem com o Menino.
No que toca ao espólio do templo, salientam-se ainda as imagens de Nossa Senhora do Rosário e de Santo António. Na capela–mor, em rodapé, encontram-se alguns azulejos sevilhanos quinhentistas.
O Santuário e Capela de Nossa Senhora dos Milagres estão integrados nos limites da povoação. A sua construção inspirou-se nos tipos regionais setecentistas, como está bem patente no altar–mor e nos altares colaterais. Terá sido começada em 1850, aumentada em 1867 e decorada em 1879. A sua construção partiu da iniciativa do prior Dionísio Garcia Ribeiro, que alegou ser urgente a construção de um outro templo como alternativa à Igreja Matriz no caso de esta ser interdita. Recebe ainda hoje a festa anual, muito concorrida, no dia 15 de Agosto.
A Capela do Cemitério foi construída em 1909 por iniciativa de António Ribeiro de Vasconcelos, primeiro Diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O silhar de azulejos azuis e amarelos que se pode ver no interior veio do Colégio de São Bento, de Coimbra. Dentro da capela do Cemitério existe a Capela do Bom Jesus Redentor quwe “É um regalo para os olhos e um mimo para o coração!»., disse dela o poeta Eugénio de Castro.

TOPONIMIA

O topónimo Gramaços deriva de “Garamaços”, do latim “Garamaz”.
A freguesia era designada por São Paio do Codeço, ou do Codesso, nome genérico de vários arbustos leguminosos, do fim do séc. XVI (1594) e até meados do séc. XVII, como mostra os registos paroquiais do Arquivo da Universidade de Coimbra. Será que os dois nomes eram usados? O arquivo passa depois a chamar a freguesia S. Paio de Gramaços. Mas oficialmente, só em 28 de Julho de 1919 passou a ter a atual denominação, segundo consta, por intervenção do Professor Doutor António de Vasconcelos.

Ordenação Heráldica do Brasão de São Paio de Gramaços

Brasão da Freguesia de São paio de Gramaços

Escudo a vermelho, duas palmas de ouro folhadas, com os pés passados em aspa e uma lira de ouro cordoada e realçada a negro; Duas cântaras de cobre nos flancos; fontenário ao centro; Coroa Mural de prata de 3 torres. Llstel branco, com a legenda a negro: “S. Paio de Gramaços”.
Coroa Mural: Coroa mural de prata de 3 torres. Esta coroa é obrigatória para todas as freguesias. (Vilas 4 torres e Cidades 5 torres).
Escudo: Escudo a vermelho. cor do padroeiro de S. Paio de Gramaços que é S. Pelágio.
Listel: Listel branco, obrigatoriamente, com a legenda a negro do nome da freguesia – S. Paio de Gramaços.
Palma e lira: Duas palmas de ouro folhadas, com os pés passados em aspa e uma lira de ouro cordoada e realçada a negro. Representam o gosto pelo desporto, pela cultura e pela instrução, sendo também uma homenagem a alguns beneméritos e cidadãos anónimos que deram tudo pelo desenvolvimento de desporto, cultura e educação na freguesia.
Cantaras de cobre: Duas cantaras de cobre. Simbolizam um dos artesanatos mais representativos da nossa freguesia no país, sendo também uma homenagem a todos os empresários, dos mais variados ramos, que geram riqueza para a região e país.
Fonte: Fontenário de Nossa Senhora dos Milagres. É um monumento uma homenagem a Nossa Senhora, venerada por todos os Sampaenses e Catraenses. A lista azul realça a qualidade das águas e é também a cor de Nossa Senhora.

 OBSERVAÇÕES:
1 – A utilização do vermelho no fundo do escudo, impediu em termos legais, de utilizar outra cor, que não fosse o amarelo ou o branco. Daí não aparecer o azul e o verde em mais destaque.
2 – A escolha do fontenário foi efetuada partindo do pressuposto de que mais nenhuma freguesia tem outro igual. Poderia ter escolhido a igreja, mas existem muitas parecidas com a nossa; também se poderia ter escolhido uma imagem ou fotografia mas era permitido em termos legais.
3 – Para além do fontenário só se podism escolher 3 símbolos diferentes. Escolheram-se as palmas e a lira para representar o desporto, cultura e educação ao melhor nível e escolheram-se as cantaras de cobre para se fazer figurar de pleno direito, a Catraia de São Paio no brasão da freguesia. Fez-se o possível por fazer figurar outras atividades, mas não foi possível em virtude de ser possível ter 3 símbolos diferentes, sob pena de não ser aprovado em Diário da República.
4 – Ao se efetuar estas escolhas, sempre difíceis e balizadas na lei, procurou-se dar ao brasão uma abrangência simbólica e de leitura subjetiva, incluindo aquilo que mais caracteriza a freguesia ao nível da região: os aspetos culturais (grupos variados, homens da letras, beneméritos); aspetos desportivos; aspetos religiosos e aspetos relacionados com o trabalho (as empresas, o artesanato, a criação de riqueza).